A História da Madeira conta com vários milénios. As Grutas do Cavalum,localizadas no sítio da Ribeira Grande, concelho de Machico, são um testemunho valioso disso. Conhecer este espaço representa, por isso, uma viagem imperdível ao passado desta ilha vulcânica.
Este conjunto de quatro grutas, também denominadas ‘Furnas do Cavalum’, constitui um património geológico de grande importância. Importa notar que a formação desta pérola do Atlântico remonta ao período Neogénico, sendo que a última erupção vulcânica conhecida ocorreu “apenas” há cerca de 6000 anos, perto do planalto do Paul da Serra.
Porém, são poucos os tubos de lava conhecidos na ilha da Madeira. As Grutas do Cavalum são um exemplo paradigmático disso mesmo. A formação destas estruturas deve-se ao arrefecimento mais rápido da lava que, depois da erupção, fica à superfície. O interior, que conserva durante mais tempo a liquidez, torna-se oco, formando deste modo os canais subterrâneos que resistem até aos dias de hoje.
As Grutas do Cavalum, cujo nome é referente a uma figura lendária com forma de cavalo e asas de morcego, são constituídas por quatro cavidades. Estas formações geológicas, com dimensões e altitudes diferentes, hospedam uma fauna cavernícola bastante diversa. Algumas das espécies aqui encontradas são exclusivas da Madeira.
O nome Cavalum, atribuído a estas grutas, advém da lenda a elas associada, segundo a qual existia um diabo com forma de cavalo, asas de morcego e que deitava fogo pelas narinas, chamado Cavalum.
A lenda do Cavalum
Falando sobre esta incomum lenda do Cavalum, por todo o território de Portugal existem locais com nomes pouco vulgares e certamente intrigantes. Já cá falámos de alguns, mas talvez poucos sejam tão curiosos como as "Furnas do Cavalum", na Madeira, até porque nos instam a perguntar de onde virá um tão singular nome. Um nome, note-se, que nem sequer aparece nos dicionários portugueses. Portanto, como é a sua história?

Conta-se que a 9 de Outubro de 1803 a ilha da Madeira sofreu uma das maiores cheias da sua história. Isso é completamente factual, mas segundo esta lenda a tragédia deveu-se a um monstro como nunca visto até então. O seu nome era Cavalum, e ele era essencialmente um enorme cavalo negro, a que o povo depois foi adicionando outras características - asas de morcego, um corno no meio da cabeça ou até a temível capacidade de cospir fogo. Então, numa confiança inabalável, a monstruosa criatura até destruiu uma igreja local (que na altura tinha o nome de "Capela de Cristo"), atirando a imagem de Jesus para os mares próximos, como que desafiando Deus a que o parasse.
Mais tarde, Deus lá decidiu intervir e fê-lo capturando o monstro, que encerrou no interior de umas cavernas próximas, onde este deixou de poder causar mais problemas - mas ainda hoje não deixa de o tentar fazer, e então os seus relinchos furiosos podem ser ouvidos no local nas manhãs de tempestade. Quanto à imagem de Jesus, essa, foi recuperada e levada para aquela que é agora conhecida como a Capela do Senhor Bom Jesus dos Milagres.
O local em que, segundo a lenda, este monstro foi encerrado é, naturalmente, o das furnas que tomaram o seu nome de Cavalum. Mas este desfecho, apesar de pouco vulgar, não é um caso único - recorde-se, por exemplo, o mito grego de Tífon, em que Zeus prendeu esse seu opositor debaixo de um famoso vulcão. Será que esse mito grego, ou um outro semelhante a ele, inspirou toda esta lenda nacional? Não podemos ter a certeza, mas mitos e lendas como estas, que existem igualmente por todo o mundo, servem para explicar um elemento místico e misterioso muito presente nesses locais, que certamente não podiam deixar de causar um grande espanto aos visitantes de outros tempos.

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